sexta-feira, 26 de março de 2010

Deverá a defesa da pátria opor-se a um verdadeiro amor?

Túmulos de D. Pedro e D. Inês de Castro: O gótico em Portugal

Os túmulos de D. Pedro I e D. Inês de Castro, no Mosteiro de Alcobaça, são a maior memória da época (ao nível artístico) que podemos encontrar, hoje em dia, referente a esta história. São duas obras magníficas da arquitectura e características da arte gótica em Portugal.

O que é a arte gótica?

A arte gótica surgiu no século XII e prolongou-se, aproximadamente, até ao século XIV. É um estilo semelhante ao românico mas que tinha como grande preocupação a entrada da luz nas catedrais e igrejas (uma das grandes lacunas daquele estilo).

Características:

Naves mais altas do que as do estilo românico de forma a resolver o problema da entrada da luz, assim como paredes finas e janelas largas.

Ao nível da decoração podemos observar rendilhados, pináculos, vitrais nas janelas, entre outros.

Túmulo de D. Pedro I

D. Pedro está representado com uma expressão calma, coroado e rodeado de anjos, segurando, com a mão direita, o punho da espada e, com a mão esquerda, a bainha.
Nas faces do túmulo é possível observar a representação da infância de S. Bartolomeu e o seu Martírio, a Roda da Vida e a Roda da Fortuna e a Boa Morte de D. Pedro.

A Roda da Vida representa os momentos da vida de D. Pedro e D. Inês de Castro:

D. Inês acarinha um dos filhos;
D. Pedro e D. Inês de Castro com os três filhos;
O casal joga Xadrez;
D. Pedro e D. Inês em convívio;
D. Inês subjuga uma figura arrasada no chão;
D. Pedro sentado num majestoso trono;
D. Inês surpreendida com os assassinos enviados pelo Rei D. Afonso IV;
D. Inês a desvendar um dos seus assassinos;
D. Inês é degolada;
D. Inês morta;
Os assassinos de D. Inês a serem punidos;
D. Pedro I envolto numa mortalha.

Na Roda da Fortuna podemos constatar as mudanças na nossa vida e outros momentos marcantes da vida do casal (tal como na Roda da Vida):

D. Inês sentada à esquerda de D. Pedro pois ainda não tinham casado;
D. Inês sentada à direita de D. Pedro mostrando, assim, que já estavam casados;
D. Inês e D. Pedro sentados lado a lado parecendo-se com um retrato oficial;
A expulsão de D. Inês de Castro do Reino por parte de D. Afonso IV;
D. Inês afasta um homem que parece ser, novamente, D. Afonso IV;
D. Pedro e D. Inês no chão, subjugados pela Fortuna sendo que esta segura a Roda com as mãos.

Túmulo de D. Inês de Castro

Inês de Castro está representada com uma expressão calma, rodeada por anjos e coroada rainha. A mão direita toca na ponta do colar que lhe cai do peito e a mão esquerda segura a outra luva.

Nos frontais do túmulo estão representadas a Infância de Cristo e a Paixão de Cristo.
Nas laterais o Calvário e o Juízo final.

A lateral que representa o Juízo Final foi uma forma de D. Pedro mostrar que ele e D. Inês de Castro teriam um lugar no paraíso, juntos, depois de por tanto passarem e que todos aqueles que os julgaram iriam entrar na boca de Levitão (representação animal do diabo).

É, também, possível observar a Virgem e os Apóstolos a rezar e mortos a saírem das suas sepulturas.
















Túmulo de D. Pedro I
















Túmulo de D. Inês de Castro


Fontes:

http://pt.wikipedia.org/wiki/T%C3%BAmulos_de_D._Pedro_I_e_de_In%C3%AAs_de_Castro

Literatura

Em Portugal há imensos autores que se basearam na história de amor de Pedro e Inês de Castro para comporem as suas obras. São exemplos desse belo romance os livros:

Luís de Camões - Inês de Castro (Lusíadas) - Canto III: estrofes 118 a 135

Ruy Belo – Inês Morreu

Eduardo Aroso – Inês de perto e de longe

Francisco Manuel de Melo - 12 Sonetos

Garcia de Resende - Trovas a Inês de Castro

Maria Azenha - Estavas linda Inês posta em sossego

Vitor Hugo – Inês de Castro

Luís Rosa - O amor infinito de Pedro e Inês

Rosa Lobato Faria - A trança de Inês

Artur Pedro Gil - O julgamento da Inês de Castro

Ana Maria Magalhães e Isabel Alçada - Uma aventura na Quinta das Lágrimas

Maria Leonor Machado de Sousa - Pedro e Inês, um tema de sempre

Bocage - Cantata à morte de Inês de Castro

Da miseranda Inês o caso triste
Nos tristes sons, que a mágoa desafina,
Envia o terno Elmano à terna Ulina,
Em cujos olhos seu prazer consiste.
Paixão, que, se a sentir, não lhe resiste
Nem nos brutos sertões alma ferina,
Beleza funestou quase divina,
De que a memória em lágrimas existe.
Lê, suspira, meu bem, vendo um composto
De raras perfeições aniquilado
Por mãos do Crime, à Natureza oposto.

Semblante

Para quê falar
Se tu não queres ouvir?
Para quê te tocar
Se tu não me queres sentir?
Para quê chorar
Se tu não queres saber?
Para quê amar
Se o amor faz sofrer?
Para quê andar
Se o chão foge de mim?
Para quê sofrer
Se tu és mesmo assim?
Para quê me perder
Se eu preciso de ti?
Para quê eu morrer
Se eu nunca vivi?

Agradecimento especial ao Hélio.

sábado, 20 de março de 2010

A história de amor



















Agora que já temos uma pequena noção do contexto histórico da época e de quem são os intervenientes desta triste história, vou, finalmente, contar-vos o quão especial ela é e os fortes sentimentos que desperta.

A história de Inês de Castro é, permitam-me a ousadia da afirmação, a mais bela história de amor da nossa história.
O facto da lenda ter tido um final trágico, acabando na vingança do Rei, de passar de geração em geração com a imagem de um “amor proibido” e, mais importante, de ter sido imortalizada por dezenas de autores nacionais e internacionais ao nível da musica, do teatro, do cinema, da pintura, da literatura e os sentimentos expressos por estes, como se estivessem a vivê-los, faz com que tenha uma relevância ainda maior na História de Portugal.
Tu, só tu, puro amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.

Camões, Luís Vaz. Os Lusíadas, Canto III, est. 119


Já foi, também, explicado que Inês de Castro era uma aia de D. Constança Manuel, mulher de D. Pedro I, e que viajou com esta para Portugal.
A beleza de Inês de Castro era tal que impressionava os homens da corte.

Não é difícil de prever que se viriam a tornar amantes, facto que, obviamente, perturbava bastante D. Constança.
Assim, aquando do nascimento do primeiro filho de D. Pedro e D. Constança – D. Luís –, a rainha convida Inês de Castro para madrinha do filho de forma a impedir o relacionamento do marido com esta, uma vez que na época era considerada uma “relação de parentesco espirituosa”.

Mas a sorte não estava do lado de D. Constança e a criança acabaria por morrer sem completar um ano de idade.
Rapidamente, surgiram rumores na corte e no povo de que a madrinha não tinha proferido bem as palavras de baptismo, facto que fez com que D. Afonso IV expulsasse Inês de Castro para Espanha.

Apesar de tudo, não foi desta forma que o amor de D. Pedro e D. Inês acabou. Pelo contrário, ainda ficou mais intenso!
Comunicavam-se por cartas que eram transportadas por almocreves (pessoas que transportavam mercadorias de terra em terra) para não levantar quaisquer suspeitas.

D. Constança Manuel morre em 1345, enquanto dava à luz D. Fernando.
Como já, aqui, foi referido, “D. Pedro consegue que D. Inês regresse a Portugal e instalam-se em diversos locais na zona da Lourinhã e por último em Coimbra, onde passam a viver uma vida de marido e mulher, da qual nascem quatro filhos.”
D. Afonso IV tenta arranjar formas de separar o seu filho daquela que em tempos fora aia da Rainha D. Constança Manuel. Mas em vão!
Assim, El-Rei decide tomar uma decisão definitiva, isto é, mandou matar Inês de Castro.

Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo co'o sangue só da morte indina
Matar do firme amor o fogo aceso.

Camões, Luís Vaz. Os Lusíadas, Canto III, est. 123

Quais as razões que levaram D. Afonso IV a não concordar com a relação entre o seu filho e D. Inês de Castro?

Nunca houve consenso em relação a esta questão. Ao longo dos tempos surgiram diversas versões mas nenhuma delas é, suficientemente, convincente:

- Uma das versões diz que Inês de Castro foi assassinada porque havia, na corte, quem temesse que D. Pedro beneficiasse os Castro (que eram uma poderosa família Castelhana) em detrimento de alguns elementos da nobreza portuguesa;

Fará sentido matar a mulher do príncipe herdeiro por medo da família desta?
Esta situação não poderá ter um efeito contrário e D. Pedro aproximar-se ainda mais dos Castro?

- Outra das versões diz que a morte de Inês de Castro era uma forma de salvaguardar os interesses de D. Fernando, legitimo herdeiro, pois se este morresse quem subiria ao trono seria um dos filhos da ligação de D. Pedro com D. Inês de Castro. Assim, os Castro poderiam ser beneficiados se alguém da sua família estivesse no trono.

Fará sentido matar Inês de Castro, nestas circunstâncias, sendo que o seu filho mais velho é que poderia aspirar a subir ao trono e nunca a mãe?

- Há ainda quem diga que, como Castela estava envolvida numa guerra civil para derrubar o Rei e os Castro estavam envolvidos, tendo pedido auxílio a D. Pedro e prometendo-lhe que em caso de vitória aclamavam-no Rei (a mãe de D. Pedro, D. Beatriz, era filha de Sancho IV de Castela), D. Pedro poderia arranjar problemas e colocar-se numa situação arriscada. De facto, o príncipe estava mesmo decidido e só a proibição de D. Afonso IV evitou que se envolvesse na guerra. Assim, os nobres portugueses convenceram El-Rei que, com a morte de Inês de Castro, D. Pedro esqueceria o assunto e não era tão influenciado por esta.

Ainda assim, esta é a versão mais crível. Mas, fará sentido que D. Pedro desista da ideia pelo facto do assassinato da sua amada?

A morte de D. Inês de Castro

Inês de Castro foi degolada a 7 de Janeiro de 1355, em Coimbra, onde é hoje a Quinta das Lágrimas, por Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves, Diogo Lopes Pacheco e ainda com a presença de El-Rei D. Afonso IV, ao qual suplicou que lhe deixasse viver alegando como razão os filhos que também eram seus netos e prometendo-lhe que abandonaria o país.
O Rei comovido ainda pensou perdoar-lhe mas os executores não o influenciaram nesse sentido.

Queria perdoar-lhe o Rei benigno,
Movido das palavras que o magoam;
Mas o pertinaz povo, e seu destino
(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.

Camões, Luís Vaz. Os Lusíadas, Canto III, est. 130

A vingança de D. Pedro

Quando D. Pedro descobriu o que aconteceu à sua amada, ficou enraivecido e, apesar de ter prometido ao seu pai, enquanto este ainda era vivo, que nada faria contra os executores de Inês de Castro (que entretanto se tinham exililado em Castela), mal subiu ao trono (1357) vingou-se deles.
Fez um acordo com Pedro - o cruel - Rei de Castela, que consistia numa troca:
O Rei de Castela mandava capturar os assassinos de Inês de Castro e D. Pedro mandava capturar uns nobres Castelhanos que estavam exililados em Portugal. De seguida, procedia-se às trocas.
Contudo, apenas Pêro Coelho e Álvaro Gonçalves foram capturados pois Diogo Lopes Pacheco conseguiu escapar.
Segundo a lenda, D. Pedro mandou arrancar o coração de um pelo peito e do outro pelas costas e depois foram queimados os corpos.

Depois de morta... foi Rainha

Em 1360, D. Pedro I anunciou que tinha casado, em segredo, com D. Inês de Castro e mandou construir dois túmulos (um para D. Inês de Castro e outro para ele quando morresse) que são o esplendor da arte gótica em Portugal, sitos no Mosteiro de Alcobaça.

O caso triste, e digno da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que depois de ser morta foi Rainha.

Camões, Luís Vaz. Os Lusíadas, Canto III, est. 118

Fontes:

Alçada, Isabel et al. História de Portugal - Tempos de Revolução. Vol. III. Caminho, Lisboa, 1995. pp. 20-22

Pintura de José de Guimarães, Variações Camonianas

Agradecimento especial à Clara pelo primeiro desenho

domingo, 14 de março de 2010

Quem foi D. Inês de Castro?

D. Inês de Castro nasceu em 1320 ou 1325. Era uma fidalga galega, que fazia parte da comitiva da infanta D. Constança de Castela, quando esta se deslocou a Portugal para casar com o príncipe D. Pedro, em 1340.























A beleza de D. Inês despertou desde logo a atenção do príncipe, que veio a apaixonar-se por ela e a tornar-se seu amante. O facto é que toda a gente comentava, por isso, quando nasceu o primeiro rapaz de D. Constança esta convidou D. Inês para madrinha.

Esta ligação de amor, juntando-se ao facto de Luís, filho de D. Pedro e de D. Constança, ter morrido porque (achava a corte) a madrinha não tinha pronunciado bem as palavras de baptismo, fez com que o rei D. Afonso IV, pai de D. Pedro, expulsasse D. Inês para Espanha em 1344.

Mas D. Pedro não esqueceu D. Inês e quando D. Constança morre de parto, em 1345, D. Pedro consegue que D. Inês regresse a Portugal e instalam-se em diversos locais na zona da Lourinhã e por último em Coimbra, onde passam a viver uma vida de marido e mulher, da qual nascem quatro filhos.

D. Afonso IV e os seus conselheiros apercebem-se que a ligação de D. Pedro com D. Inês poderá trazer graves consequências para a coroa portuguesa, pois tinham receio que os filhos bastardos de D. Pedro pudessem fazer frente ao legítimo herdeiro do trono. Por isso, ouvindo o Conselho em Montemor-o-Velho, D. Afonso IV condena D. Inês à morte.

Quando D. Inês teve conhecimento da decisão do rei, implorou-lhe misericórdia, apresentando como argumento os seus quatro filhos, netos de D. Afonso IV. O rei ainda teve pena de D. Inês, mas os fidalgos insistiram e o interesse do Estado foi mais forte. D. Inês foi degolada a 7 de Janeiro 1355.
Quando finalmente D. Pedro I subiu ao trono, em 1357, afirmou perante a Corte portuguesa ter casado clandestinamente com D. Inês de Castro, aclamando-a rainha.



Fontes:

De Sousa, Manuel. Reis e Rainhas de Portugal. Sporpress, Mem-Martins. pp. 55, 56.

Alçada, Isabel et al. História de Portugal - Tempos de Revolução. Vol. III. Caminho, Lisboa, 1995. pp. 17-25

URL: http://www.escolavirtual.pt

Quem foi D. Pedro I?

D. Pedro I, “o Justiceiro” ou “o Cruel”, filho de D. Afonso IV e de D. Beatriz de Castela, nasceu em Coimbra a 8 de Abril de 1320 e foi o oitavo rei de Portugal, sucedendo a seu pai em 1357.

D. Pedro casou com D. Branca de Castela, filha do rei de Castela, com apenas oito anos, mas acabou por desistir deste casamento pois a menina sofria de uma doença grave e em 1336, volta a casar, desta vez com D. Constança Manuel, filha de D. João Manuel e de D. Constança de Aragão, em 1340.

No séquito de D. Constança veio para Portugal D. Inês de Castro, por quem D. Pedro se apaixona e de quem teve quatro filhos, com ela protagonizando uma dos mais belos romances da nossa História.

Depois da morte de D. Inês de Castro, a mando de seu pai, D. Pedro revoltou-se contra este e invadiu e destruiu terras a norte do Douro não conseguindo entrar apenas no Porto. A paz é restabelecida no mês de Agosto de 1355 em Canaveses com a ajuda de D. Beatriz que serviu de medianeira, entre o rei e o seu filho, até os conseguir reconciliar. Desde logo D. Afonso chama D. Pedro a participar no poder e D. Pedro promete perdão a todos os que ajudaram na morte da sua amada. Após a morte de seu pai é aclamado rei de Portugal, em 28 de Maio de 1357, com 37 anos de idade.

Apesar da paz assinada com seu pai, D. Pedro I nunca perdoou aos executores da sentença de D. Inês de Castro e prendeu os três fidalgos. Embora um deles tivesse conseguido escapar, os outros dois assassinos foram torturados e por fim queimados depois de o próprio rei D. Pedro I lhes ter arrancado o coração, a um pelo peito e ao outro pelas costas.

D. Pedro I provou ter casado com D. Inês de Castro procurando dar legitimidade aos filhos que teve com ela e impôs que a reconhecessem como rainha de Portugal apesar de morta.

Em 1360 mandou fazer dois túmulos onde se encontram os seus restos mortais em frente dos de D. Inês de Castro na capela-mor da igreja do mosteiro de Alcobaça.

D. Pedro I acabou por morrer, em Estremoz, a 18 de Janeiro de 1367 após o seu curto reinado de dez anos, num período pacífico, em que se gozou os bens abundantes que o país ia produzindo sem qualquer sobressalto.

A descrição dos biógrafos afirma que D. Pedro era:

“Grande de corpo, e de fermosa presença, […] a bocca teve grande, e engraçada, e o rosto algum tanto largo, mas bem corado. Era muito gago na falla, e bem atentado em suas respostas […] de sua propria, e natural inclinação rigoroso, e mui amigo de executar a pena das leis sem misericordia […] amicíssimo de danças, e folias Portuguezas […]. Deleitava-se com musica de trombetas, e as tinha de prata […]”


Fontes:

De Sousa, Manuel. Reis e Rainhas de Portugal. Sporpress, Mem-Martins. pp. 55, 56.

Alçada, Isabel et al. História de Portugal - Tempos de Revolução. Vol. III. Caminho, Lisboa, 1995. pp. 17-25

URL:http://www.escolavirtual.pt

sábado, 13 de março de 2010

Quem foi D. Afonso IV?

D. Afonso IV (Coimbra ou Lisboa, 8 de Fevereiro de 1290 – Lisboa, 8 de Maio de 1357) – O bravo – foi o sétimo Rei de Portugal, reinando de 1325 a 1357.

Não há certezas sobre se nasceu em Coimbra ou Lisboa, contudo é mais provável que tenha nascido em Coimbra devido à estadia da corte, nesta cidade, por altura do seu nascimento.

Filho de D. Dinis e D. Isabel de Aragão, teve uma irmã – D. Constança – fruto de ligação legítima. Todavia, devido a alguns casos de infidelidade do Rei, teve outros irmãos bastardos com os quais, nem sempre, teve uma relação tranquila.
O caso mais flagrante, foi com o seu meio-irmão D. Afonso Sanches. D. Afonso IV não gostava da relação de grande proximidade existente entre o seu pai e o seu irmão bastardo e temia que D. Dinis pudesse entregar o trono a este, caso que não se verificou.
Ainda assim, entre 1319 e 1324, houve uma guerra civil que opôs pai e filho.
Em 7 de Janeiro de 1325, D. Dinis morre e D. Afonso IV sucede a seu pai.

Segundo Esteves, Julieta (2009), D. Afonso IV "seria, como veio a dar provas, arisco, de feitio rebelde e independente, talvez pouco sabendo de amores familiares, mas, em contrapartida, sabendo odiar. A Crónica de Portugal de 1419 apresenta D. Afonso como um infante inconformado e desobediente a seu pai, acentuando esses procedimentos para os anos de 1317 a 1324, quando o Rei D. Dinis se encontrava já enfermo e se aproximava da morte."

A sua governação, como aqui foi referido, foi marcada por acontecimentos que mostraram a bravura do Rei, como quando invadiu Castela em defesa da sua filha e, especialmente, na Batalha do Salado em que, conjuntamente com Afonso XI de Castela, os Cristãos saem vitoriosos, acabando, assim, com a última tentativa de reconquista da Península Ibérica por parte dos Mouros.

O seu reinado foi, também, marcado pela elaboração de várias leis, como por exemplo, a proibição, sob pena de morte, da vindicta, que consistia no direito que os nobres tinham de fazer justiça pelas suas próprias mãos.

O século XIV foi marcado, um pouco por toda a Europa, pela peste negra. Em consequência disso, os camponeses começaram a abandonar os campos. Assim, D. Afonso IV publicou as leis sobre o trabalho e tabelamento dos salários:

"Fui informado que, em muitos concelhos, há homens e mulheres que, antes da peste, ganhavam dinheiro pelo seu trabalho (…) e que, agora, por terem recebido bens por morte de algumas pessoas, já não querem trabalhar no que antes faziam.
E que há também muitos outros que costumavam cavar, podar, lavrar, ceifar,
vindimar, guardar gado (…) e agora só trabalham se lhes pagarem quanto pedem. De modo que os donos das terras, não podendo pagar tão altos salários, deixam de cultivar as suas vinhas e herdades (…). Mando-vos, por isso, que obrigueis todos os que costumavam trabalhar nos campos a voltar aos seus serviços e que tabeleis os salários como parecer razoável.
(…) Se acharem alguns homens e mulheres que podem e não querem trabalhar e andam pedindo esmola (…), obrigai-os a trabalhar. E se o não quiserem fazer açoitem-nos e obriguem-nos a sair do concelho."


Circular de D. Afonso IV aos concelhos (1349), in Livro das Leis e Posturas Antigas (adaptado).


Foi também no reinado de D. Afonso IV que ocorreu o drama de Inês de Castro. Mas, isso, abordaremos em posts futuros….

Fontes:

Esteves, Julieta. Reis de Portugal – Afonso IV. Academia Portuguesa da História, Lisboa, 2009. pp. 5-7

Fernandes, Isabel. Reis e Rainhas de Portugal. Ed 3. Texto Editora, Lisboa, 2000. pp. 20, 21

Cantanhede, Francisco et al. Novo História 8. Vol I. Ed 1. Texto Editores, Lisboa, 2007. pp. 14, 15

quinta-feira, 11 de março de 2010

O século XIV em Portugal: Os Reinados de D. Afonso IV e D. Pedro I

Um cronista muito especial

Fernão Lopes (1378? - 1459?), uma das maiores figuras da literatura da época.
Escreveu as crónicas dos Reis D. Pedro I, D. Fernando e D. João I que são a base de muito do que se sabe, hoje em dia, acerca deste período da história.
Por que semelhante amor, qual
El-Rei Dom Pedro ouve a Dona
Enes, raramente he achado em
alguuma pessoa

Fernão Lopes, Crónica do Senhor Rei Dom Pedro

A crise do século XIV na Europa e em Portugal

Um pouco por toda a Europa, uma sucessão de Invernos chuvosos afectou grande parte da agricultura, originando fomes.
A isto, juntou-se um grande surto de epidemias sendo que, a mais mortal e conhecida, foi a peste negra.
Estes problemas, em conjunto, provocaram, para além de uma elevada mortalidade e consequente quebra demográfica, uma grande baixa na produção, inflação e aumento dos impostos. Começaram, assim, as primeiras revoltas populares.
Portugal não foi excepção e os Reinados de D. Afonso IV (1325-1357), D. Pedro I (1357-1367) e D. Fernando (1367-1383) foram, fortemente, afectados pondo termo a um período de desenvolvimento que foi apanágio das épocas dos seus antecessores, D. Afonso III e D. Dinis.
Para diminuir os efeitos da crise, os monarcas tomaram algumas medidas como, por exemplo, as leis sobre o trabalho e tabelamento dos salários, no caso de D. Afonso IV.


A ascensão ao trono e reinando de D. Afonso IV

Entre 1319 e 1324, D. Afonso IV entrou em conflito com o seu pai devido a uma relação muito próxima entre D. Dinis e D. Afonso Sanches (filho bastardo), ou seja, D. Afonso IV tinha medo que o pai pudesse entregar o trono a D. Afonso Sanches. Desencadeia-se, assim, uma guerra civil que opunha defensores das duas facções.
D. Afonso IV - O Bravo - sobe ao trono em 1325. O seu cognome relaciona-se com o facto de este ter sido "bravo" em duas situações: a primeira quando invadiu a fronteira de Castela pois uma das suas filhas era casada e maltratada pelo Rei de Castela (Afonso XI) e a segunda após a grande vitória na Batalha do Salado.


Reinado de D. Pedro I

D. Pedro - O Justiceiro - governou o Reino de Portugal durante dez anos (1357-1367).
Segundo Saraiva, José Hermano (1989), "escreveu Fernão Lopes, que nunca tais dez anos houve em Portugal como aqueles em que reinou El-Rei D. Pedro. Esse sentimento exprimia a saudade dos tempos, que depois não se repetiram, da aliança entre a coroa e as forças populares."


Fontes:

Alçada, Isabel et al. História de Portugal - Tempos de Revolução. Vol. III. Caminho, Lisboa, 1995. pp. 14

Saraiva, José Hermano. História Concisa de Portugal. Ed 13. Publicações Europa-América, Lisboa, 1989. pp. 87-90

quarta-feira, 10 de março de 2010

Pedro & Inês 2010

Para quem deseja conhecer a história de vida de Inês de Castro, o contexto histórico e social da sua época, entre outros... eis pedro-ines2010; um blog onde se irá dar grande ênfase à apaixonante história de amor entre El-Rei D. Pedro (que ainda não era Rei aquando da morte da sua amada) e uma bela aia da Rainha D. Constança Manuel - Inês de Castro - e questionar, se a importância de proteger/defender o Reino é mais relevante do que um verdadeiro amor.

Bem-Vindos!